Vila Belmiro, um estádio órfão
Chamada carinhosamente pela torcida do Santos de alçapão, a Vila Belmiro testemunhou diversos craques desfilarem pelo seu gramado. Se começar a enumerar aqui, esse texto não terá fim, mas não podemos deixar de falar do maior de todos, Pelé, com os seus parceiros Durval, Coutinho, Mengálvio e Pepe.
Ou sobre os primeiros passos de chuteira de diversos craques como Diego Ribas, Robinho e Neymar. Mais recentemente, por lá passou Rodrygo, provando que um raio cai várias vezes em um mesmo lugar. Quem não se lembra daquela histórica partida de 2011 em que o Flamengo venceu o Peixe por 5 a 4 com 3 gols do gênio Ronaldinho Gaúcho?
No entanto, infelizmente, um dos estádios mais charmosos do Brasil está órfão de um grande time e de um grande craque para chamar de seu. A velha Vila Belmiro está com saudades de poder receber um time do Santos que não se acovarde em campo, que não tenha medo dos adversários, que faça o que a história do clube com mais gols no mundo exige.
O estádio que preenche o quarteirão das ruas Princesa Isabel, Tiradentes, José de Alencar e Dom Pedro I está saudoso, nostálgico, engasgado, sufocado para poder gritar, torcer, empurrar um time verdadeiramente à altura do Santos. Um time que não vibre com o empate no último minuto do jogo, um time que não aceite que uma derrota no estádio do rei, do maior de todos, seja apenas um resultado normal. Um time que vá para cima, que mesmo perdendo ao final do jogo, tenha a ombridade de lutar até o fim como os meninos daquela histórica partida contra o Flamengo fizeram.
A Vila sente falta dos grandes jogos, das noites de Copa Libertadores, dos dribles, dos contra-ataques rápidos e mortais que destruíam qualquer um que ousasse a tentar se impor contra o Santos Futebol Clube. Cansada de tantos fracassos, ela tá até pensando em dar uma repaginada no visual. Talvez, ingenuamente, ela pense que a culpa é dela. Que ficando maior, mais moderna, quem sabe os tempos de glória voltem a se lembrar de seu endereço?
13/01/2021. Uma data comum para muitos, mas para ela não. Esse foi o último dia em que a Vila recebeu um grande jogo do Santos. 3 a 0 contra o Boca Juniors, despachando o time argentino nas semifinais da Libertadores.
Quem chega em Santos e olha a Vila pela primeira vez, aquele estádio pequeno, acanhado, talvez não imagine o quanto de história existe ali, o quanto esse estádio está intrinsicamente ligado ao fato de a Seleção Brasileira de Futebol ser a maior de todas. Desrepeitar a Vila, menosprezá-la é desrespeitar e menosprezar a história do futebol brasileiro.
Muitos podem achar que a Vila ficou pequena demais, que ela não merece mais receber os jogos do Santos, mas é justamente o contrário. Quem não merece a Vila Belmiro é o atual time do Santos, quem não merece pisar em um gramado tão sagrado são os atuais jogadores do Santos, são aqueles que fizeram com que esse solo sagrado, o maior palco do rei, fosse o mesmo a testemunhar a maior vergonha da história colossal do Santos Futebol Clube.
A Vila Belmiro, o estádio Urbano Caldeira, merece somente a glória!
