A oposição que eu desejo

Douglas Dayube
5 min readJan 5, 2019

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Todos nós já sabemos que Bolsonaro tomou posse esta semana como presidente do Brasil e que já na primeira semana de governo uma série de medidas foram tomadas com o objetivo de retirar direitos já consolidados desde a Contituição de 1988. Em sua primeira semana, Jair e sua equipe conseguiram atacar índigenas, os LGBTI+ e os trabalhadores brasileiros.

Entretanto, além de todas as loucuras que Bolsonaro vem fazendo, o que nós já sabíamos desde outubro que ele cometeria, o que mais me preocupa é a postura da oposição que vem sendo construída para se contrapor ao governo que mal começou.

Desde as jornadas de junho de 2013, a esquerda brasileira vem apenas reagindo aos ataques da direita e da ultra-direita nacional e só vem acumulando derrotas desde então: tanto no campo político com a queda de Dilma, destruição do fraco Estado de bem estar social brasileiro, nas eleições de 2016 e agora nas eleições de 2018, na qual a onda conservadora virou um verdadeiro tsunami e varreu praticamente todo o país (com exceção do Nordeste).

A derrocada política e eleitoral do campo progressista se deve muito a falta de capacidade de diálogo da esquerda nacional com o povo brasileiro. Com a preocupação de apenas de se defender dos ataques dos reacionários, parte do campo progressista perdeu a capacidade de propor algo novo para a população, chamar o povo para o diálogo e propor um novo pacto em torno de preocupações crescentes da população brasileira, tais como o combate à corrupção, responsabilidade fiscal e, em especial, uma resposta para o problema da violência, que atinge níveis cada vez mais catastróficos matando quase 65 mil pessoas por ano.

Ao contrário disso, a maioria das lideranças de esquerda preferiram se apegar ao passado, aos tempos de pujança econômica, dos quais o brasileiro não se lembra mais, devido aos erros cometidos pelos governos que sucederam o Governo Lula. Ao apostar no Lulismo como principal prática eleitoral, o maior partido de centro-esquerda do país jogou muito alto, pois a população — principalmente a classe média- não comprou a ideia de que Lula é inocente e sofre perseguição da Justiça e do novo herói nacional Sérgio Moro.

Para 2019, espero muito que os partidos do campo progressista dialoguem mais e juntos possam propor um novo pacto pelo país e pela não retirada de direitos dos mais atingidos pela nossa imensa desigualdade social. Que a militância de internet esteja menos interessada em lacrar com as bizarrices ditas pela direita em relação à agenda de costumes e foque no desmonte do Estado Brasileiro que está acontecendo bem aos nossos olhos.

Há alguns dias, Marcelo Freixo anunciou que será candidato à presidência da Câmara e que espera formar um bloco com os partidos alinhados ao mesmo campo ideológico que o PSoL, e até mesmo abrir diálogo com os demais partidos que estejam interessados em uma agenda republicana e democrática.

Freixo é um dos políticos que mais admiro no país, votei nele em 2012, 2014 e 2016 e só não o fiz em 18 por acreditar que eleição dele para Deputado Federal já estava garantida e preferi apostar em um outro nome do próprio partido do Freixo para a Câmara Federal, mas me incomoda muito o fato da justificativa para a concorrer à Presidência da Casa seja tão genérica como a que foi dada.

Ao falar que irá lutar por valores republicanos e democráticos, Marcelo continua falando apenas com os politizados do país, com os jovens universitários que tem plena consciência do que é Democracia e sabe a importância dela para um país mais justo e menos desigual.

Porém, ao não esclarecer o que é uma luta pelos valores republicanos, Freixo não abre diálogo com o restante da população que em uma democracia tão jovem e tão incipiente como a brasileira não tem nem sequer ideia do que é o Estado Democrático de Direito.

Em uma entrevista ao jornal O Globo, o agora ex-deputado federal Chico Alencar em uma crítica ao próprio partido disse que o Psol deveria diminuir o protagonismo que dá às causas identitárias, pois elas assustam o eleitor não politizado. As causas identitárias não devem ser colocadas de lado, pois ainda somos um país extremamente perigoso para as minorias sociais, mas por que não dar mais protagonismo a temas que sejam de interesse geral da população e que não vão ser deturpados pela extrema-direita como a agenda moral.

Boulos nos debates a presidente da República tinha um discurso muito interessante em relação ao combate de privilégios e taxação de grandes fortunas, heranças e doações.

Também acho que seria necessário o Partido dos Trabalhadores mudar a sua postura em relação aos últimos anos. Como maior partido de oposição na Câmara dos Deputados, deveria tentar começar 2019 com uma imagem diferente da que terminou 2018. A minha maior crítica ao PT é o uso do Lulismo eleitoralmente, o Partido passou os últimos anos tentando viabilizar Lula como candidato a Presidente, quando todos sabiam que isso não ia acontecer.

Passado o período eleitoral, com o Lulismo evitando a destruição total do Partido e dando ele uma soma de 54 deputados, a alta cúpula liderada pelo ex-presidente deveria assumir os erros na condução da economia nos anos Dilma, fazer uma extensa auto-crítica em relação aos escândalos de corrupção nos quais se envolveu e deixar Fernando Haddad refundar a sigla com um novo projeto de país diferente daquele que deu certo com Lula muito em função do forte aceleramento da China (coisa que não deve existir mais) e do alto preço das commodities.

A esquerda brasileira se quiser fazer uma oposição séria a Bolsonaro que possa contribuir com uma possível vitória eleitoral em 2020 e em 2022 não deve apostar no quanto pior, melhor. Não deve repetir o erro do PSDB que afundou o governo Dilma junto com Eduardo Cunha e praticamente se autodestruiu e hoje está parecendo se tornar uma linha auxiliar ao Bolsonarismo, esquecendo qualquer resquício da Social Democracia que fundou o partido na década de 1990.

O foco da oposição deve ser apresentar propostas a cada boçalidade que o novo governo fizer, e estas serão muitas, retomar o diálogo com os mais pobres, com os trabalhadores, sem pensar em hegemonismos e sem ficar presos a sectarismos. O Brasil deve ser muito maior do que a disputa de egos de Haddad, Ciro, Marina, Freixo ou Manuela. Não importa quem vai ser o nome em 2022, mas que projeto de país vai apresentar para a população.

A extrema-direita vai ter um adversário mais forte, mais preparado e mais popular que Bolsonaro, a esquerda não pode e nem deve apostar na revanche Lula x Moro no próximo pleito presidencial.

É derrota na certa!

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Douglas Dayube
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